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domingo, setembro 17, 2006

Desapego

Estive cá a pensar com os meus botões e concluí que um dos maiores desafios da Vida é o Desapego. Quando me disseram que tínhamos de ser todos amiguinhos uns dos outros, tratá-los como gostamos de ser tratados e estar lá para eles quando precisam, esqueceram-se de incluir na lista de requisitos para viver em interdependência a nota "única e exclusivamente com desinteresse".

Suspeito que a nota vinha em rodapé, Times New Roman, tamanho 2, ao estilo de uma boa cláusula de contrato que é suposto ninguém ler.

Esta questão do desinteresse e da interacção com os outros é, no mínimo e para não dizer outra coisa, tramada. Todas as relações consistem numa troca. Seja material ou emocional, existe um motivo pelo qual aceitamos manter uma ligação e cultivá-la. Pode ser o nosso patrão, que nos paga o ordenado no final do mês; um amigo, com quem nos divertimos e partilhamos confidências; ou mesmo um companheiro com quem não somos felizes, mas permanecemos pela segurança de ter alguém.

Alguém mais precipitado pode ser induzido em erro ao pensar que desinteresse significa não valorizar a outra pessoa. Certamente que o empregador responsável pelo nosso contrato tem sentido de humor britânico e nos quis pôr a pensar antes de compreender realmente onde está a piada da coisa.

O que ele poderia ter logo esclarecido é que viver com desinteresse e desapego nada tem a ver com perder a alegria de estar vivo e da ligação às pessoas, mas sim com viver essas ligações sem expectativas e amarras, aceitando que algumas pessoas partam e que outras entrem no nosso corredor, para nos acompanhar por alguns (ou talvez muitos) kms.

Eu vejo isto como um labirinto gigantesco por onde se passeiam inúmeros caminhantes, alguns percorrendo os mesmos corredores até ao momento em que decidem virar noutra direcção. A realidade é que todos caminhamos para o centro e, cedo ou tarde, nos reencontramos lá.

E quem diz que é fácil ver quem gostamos seguir numa direcção diferente da nossa? Tornamo-nos apegados ao outro e até acreditamos que a vida perde a sua tonalidade vibrante se essa pessoa partir.

Citando o nosso amigo John Edward, "há que validar as pessoas enquanto elas estão presentes na nossa vida". Ninguém sabe onde e com quem vai estar amanhã. Vale a pena parar e olhar para quem nos acompanha neste momento. E rir, viver, partilhar. O amanhã nunca chega e o ontem já lá vai.

quinta-feira, setembro 14, 2006

Pedaços de Nós (E dos Outros)

O ser humano é o enigma mais incrível...

Onde termina o Eu e começam os Outros?

Apresento-me com o meu nome, idade e o que faço e estes são os primeiros índices que me validam como distinta dos demais.

Mas quando se fala de individualidade e da sua origem, é curioso reparar em como o que somos hoje se traduz num conjunto de pedaços integrados do que fomos colhendo dos outros, ao longo do percurso. Expressões, crenças, posturas...

Desde o nascimento que aprendemos a interagir com o mundo e a inserirmo-nos nele, imitando. O processo torna-se de tal ordem automático que por vezes não é fácil perceber porque reagimos sempre da mesma forma em determinada situação ou porque nos tornamos cada vez mais parecidos com as pessoas com quem convivemos.

Identificamos nos outros qualidades que julgamos não possuir ou que ainda não recordámos que existem dentro de nós, e isso torna-os alvos de desejo e contemplação. Mas o processo funciona para o bem e para o mal, e os padrões negativos também são replicados.

Então, como dizer o que é nosso e o que é dos outros?
Acredito que nascemos com traços inatos e que a personalidade se molda em torno deles, consoante o que experienciamos.

E se existem tantos pormenores nossos que derivam do contacto com os outros, merece a pena reflectir sobre o tipo de outros que escolhemos para integrar o nosso círculo. "Separar o trigo do joio" não implica necessariamente discriminar e excluir, mas antes escolher conscientemente que tipo de pessoa se quer ser, em que sentido se escolhe evoluir.

Somos como que uma mescla de tecidos mais ou menos bonitos, melhor ou pior cozidos uns aos outros. Os pedaços de nós, que são também pedaços dos outros, distinguem-nos e unem-nos. Quase se poderia dizer, ao andar na rua: "Olha, ali vai a minha orelha" ou "Toma lá o teu sapato fedorento, já não me serve."

quarta-feira, setembro 13, 2006

Perdoar

Hoje pediram-me para perdoar alguém.
Foi fácil encontrar vários alguéns para perdoar.

Ao caminhar pela Vida, encontramos por vezes quem caminhe ao nosso lado, atrás, à frente ou até em sentido contrário.

E como somos tantos a percorrer o mesmo caminho, é fácil esbarrar em alguém sem querer (ou por querer). Consoante a pressa e atenção, a alguns pedimos desculpa, outros nem reparámos que se magoaram e com outros ainda temos o desplante de aproveitar para descarregar a frustação e o cansaço da nossa própria viagem.

Para mim, quando duas pessoas se esbarram, ambas são responsáveis pelo "acidente". Vinham distraídas, a olhar para o seu próprio umbigo ou para o ar e eis que há um encontro imediato de testas que as obriga a parar e prestar atenção. Há choques que resultam em autênticos galos que cantam anos a fio aos nossos ouvidos. E o mais chato é que a melodia é sempre a mesma (ainda não houve quem ensinasse galos a se actualizarem, fazendo downloads grátis de mp3 da internet).

Ora eu descobri que a melhor forma de calar um galo é trocá-lo por outro animal mais pacífico e melodioso. Comigo funciona bem o gato. Ronrona e faz miaus de ternura mesmo antes de se vir enroscar nas pernas e pedir brincadeira. Ok, consigo viver com isso. Mas com um galo estridente a acordar-me às 4h da madrugada... esqueçam!
De modo que, confrontada com a problemática do embate, solucionei o caso iniciando uma criação massiça de gatos felpudos e mimosos, altamente especializados em derreter o mais frio dos corações com os seus olhos grandes e brilhantes.

Assim, tudo fica mais fácil. Imediatamente a seguir ao sinistro, coloco a bola de pêlo com uma fita cor-de-rosinha enrolada no pescoço aos pés do tipo que me olha desconfiado. Assobio e conto os segundos até que, uma vez mais, o pêlo macio revela a sua mestria e docemente embebe o confrontador em ternura. Há uns mais fáceis de embeber do que outros. Mas o que importa é que a minha parte da embebedura fica feita; resta ao tipo aceitar a oferta.

Perdoar é cortar as amarras que nos encalham no passado, qual Titanic encalhado em pleno Oceano Atlântico numa noite gélida de Inverno. Mais vale largar o navio de uma vez antes que ele vá ao fundo.

terça-feira, setembro 12, 2006

O Mistério das Coisas

Paz...

Como uma mão que limpa com suavidade a testa de todos os pensamentos difusos.

No silêncio que se instala, não há mais o que querer, temer ou esperar.
Como que apenas existisse este momento único e tudo perfeitamente repousasse no local que ocupa. Sem mistério.

Aqui mesmo, sentada neste pedaço de areia frente ao mar, observo o fluxo e refluxo de cores e relevos que mais parecem o tema de um quadro a óleo, pintado em momento de êxtase divino, e que insisto em saborear com deliciosa preguiça.

Enquanto se despede o sol do meu rosto, continua o mundo em reboliço surdo e aparente desconhecimento desta paz que me transborda do peito.
E eu pergunto para onde correm tantos pés ansiosos. Onde julgam eles encontrar um local mais perfeito para se estar do que este mesmo?

E nesta entrega ao doce embalo da Vida, expande-se-me no peito a profunda gratidão pelo sentir sublime de cada momento.


"O mistério das coisas? Sei lá o que é mistério!
O único mistério é haver quem pense no mistério.
Quem está ao sol e fecha os olhos,
Começa a não saber o que é o sol,
E a pensar muitas coisas cheias de calor.
Mas abre os olhos e vê o sol,
E já não pode pensar em nada,
Porque a luz do sol vale mais do que pensamentos."


Alberto Caeiro - O Guardador de Rebanhos

segunda-feira, setembro 11, 2006

Sabedoria de Formiga

Quem disse que as formigas não são sábias?

Se olharmos bem de perto, existe uma panóplia de semelhanças entre a formiga e o ser humano.

Tal como nós, constituem formas avançadas de sociedade, curiosamente denominadas Eusocialidades. Poder-se-ia brincar e chamar-lhes as Sociedades do Eu, mas desengane-se quem ousar tomar a formiga por egocêntrica.

Resistindo desde há 100 milhões de anos a toda a sorte de provas, as formigas são o verdadeiro exemplo de que interdependência é sinónimo de força e longevidade. Desde a simples obreira, à defensora e culminando com a rainha-mãe, todas são importantes e contribuem para o equilíbrio e sobrevivência do formigueiro. É um pequeno universo, para o qual se pode olhar como se supõe que o Criador olhe para nós: com curiosidade e um pequeno "Ah!" de admiração.

No mundo da formiga, ser independente é tão arriscado quanto ser dependente. A formiga independente que procura comida sozinha, está sujeita a perder-se do trilho. A formiga dependente, que se limita a seguir o rasto das suas companheiras, nunca sabe ao certo para onde se dirige. Qualquer um dos extremos se assemelha a uma corda que a formiga atravessa em frágil equilíbrio.

E por vezes é fácil caminhar por limbos sem se ter a noção. Mas a vida encarrega-se de dar as suas bofetadas para que a formiga levante as antenas. E é preciso humildade de formiga para saber reconhecer na bofetada uma lição.

Por vezes, sinto-me como uma formiga no início de um caminho que parece interminável face ao tamanho dos meus passos. Um passito aqui, outro acolá, vou avançando. Quando olho para trás, parece que caminhei uma imensidão. Mas ao olhar em frente, baixo subtilmente as antenas para que o ego não as levante tanto que acabe por bater numa árvore.

A bagagem que trago é leve. Ouvi dizer que um pouco de atenção, tolerância, perdão e humildade seriam suficientes para chegar ao outro lado. Mas parece-me que coloquei de menos e de vez em quando preciso de parar para reabastecer...

domingo, setembro 10, 2006

Mudar

Há alturas na vida em que algo se torna insuficiente.

O que anteriormente encaixava na perfeição no puzzle, transforma-se numa peça orfã e de contornos desgastados, sem local aparente de encaixe.

O que fazer com esta peça solta? Reutilizar, reciclar? Embora ecologicamente correcto, ainda não houve quem se aventurasse a inventar um reciclador de sentimentos, e aí é que a coisa se complica.

Fosse assim tão simples e teríamos tirinhas de sentimentos saídas directamente do ReciclEMO, um ultra-moderno reciclador emocional com autonomia avançada, pronto a detectar qualquer emoção desajustada e a, mais rápido do que um Speedy Gonzalez, desfazê-la em pedaços. Com este fantástico dispositivo implantado no centro do peito, a paz de espírito seria uma constante.

O Criador do Homem, na altura de atirar com a criatura cá para baixo, deve ter pensado: "Paz de espírito assim, de mão beijada? Que piada é que isso tem? Vou antes colocar aqui dois botões, o Medo e o Amor, e deixá-lo chafurdar nas emoções. Ihih!"

Mas como era Sábado, ele até estava animado e a criatura veio com um extra: vontade de Mudar. O único senão é que este extra, sendo mais rudimentar do que o ReciclEMO, necessita de duas peças essenciais para colocar a engrenagem em funcionamento, Coragem e Fé.

É preciso Coragem para ir mais além e transformar o que já não funciona.
É preciso Fé para acreditar que tudo pode ser mais simples e recompensador.

É preciso, acima de tudo, Amor-próprio para querer unicamente ser Feliz, muito Feliz!

segunda-feira, setembro 04, 2006

A Arte do Toque

Recentemente, encontrei um amigo daqueles que são como que almas gémeas, nos quais nos revemos e espelhamos como em água cristalina.

Espelha-se entre nós o flagrante prazer de tocar. Automática e quase instantaneamente, trocamos afectos, carícias e toques subtis na interacção com aqueles com quem afinizamos. Alguns sorriem, outros retribuem, outros encolhem-se e há ainda quem diga claramente NÃO.

O toque permite reconhecer a existência do outro, alimentar a ligação. Uma mão que se passeia vagarosamente por entre uns cabelos descontraídos comunica doçura, suavidade, desejo, aconchego ou simplesmente brinca. Muitas vezes, as próprias palavras se limitam a calar perante o prazer sagrado do toque. Porque há coisas que só sentidas.

Tocar é, para mim, um reviver de tradições ancestrais. É primitivo, puro, verdade. O toque não mente. Para saber se alguém te ama, toca-lhe. Seja amor, medo, indiferença ou até repulsa, a reacção é autêntica. Vem das entranhas.

É uma dádiva e um pedido. Inunda o peito com um formigueiro apaziguador que sobe até aos lábios e se transforma em sorriso.

É arte...